domingo, 20 de setembro de 2009

Morrerei de um câncer na coluna vertebral




Morrerei de um câncer na coluna vertebral
Será numa noite horrível
Clara, quente, perfumada, sensual

Morrerei de um apodrecimento
De certas células pouco conhecidas

Morrerei de uma perna arrancada
Por um rato gigante surgido de um buraco gigante

Morrerei de cem cortes
O céu terá desabado sobre mim
Estilhaçando-se como um vidro espesso

Morrerei de uma explosão de voz
Perfurando minhas orelhas

Morrerei de feridas silenciosas
Infligidas às duas da madrugada
Por assassinos indecisos e calvos

Morrerei sem perceber
Que morro, morrerei

Sepultado sob as ruínas secas
De mil metros de algodão tombado

Morrerei afogado em óleo de cárter
Espizinhado por imbecis indiferentes
E, logo a seguir, por imbecis diferentes

Morrerei nu, ou vestido com tecido vermelho
Ou costurado num saco com lâminas de barbear

Morrerei, quem sabe, sem me importar
Com o esmalte nos dedos do pé
E com as mãos cheias de lágrimas
E com as mãos cheias de lágrimas

Morrerei quando descolarem
Minhas pálpebras sob um sol raivoso
Quando me disserem lentamente
Maldades ao ouvido

Morrerei de ver torturarem crianças
E homens pasmos e pálidos

Morrerei roído vivo
Por vermes, morrerei com as
Mãos amarradas sob uma cascata

Morrerei queimado num incêndio triste
Morrerei um pouco, muito,

Sem paixão, mas com interesse
E quando tudo tiver acabado
Morrerei.


Boris Vian
(tradução de Ruy Proença)


Mas que profundoooo.......undooooooo......undoooooooooo.....!




2 comentários:

Unknown disse...

O poema de Vian,é a cara do nosso
Tempo,onde sobra melâncolia,angústia e a única luz
num fundo do túnel é a morte,em um
mundo tomado pela desgraça e
depressão.....

Unknown disse...

Isso nos faz pensar, no que realmente somos no mundo, pessoas fica o tempo necessário diferentes e indiferentes, mas todos nos morremos mais cedo ou mais tarde. Nos faz refletir sobre a vida!